O Histórico da Fazenda Paraizo, localizada no km 102 da Avenida Dr. Ermelindo Maffei, na Estância Turística de Itu – SP, nos remete ao período do Brasil-Colônia, quando os primeiros habitantes do planalto paulista viviam em função do sertão, em busca de indígenas para escravidão, de metais e pedras preciosas. Os que permaneciam em suas roças plantavam milho, mandioca e praticavam outras atividades próprias para sua subsistência.
No início do século XVII, muitos deles, dentre os quais os membros da família de Domingos Fernandes, começaram a procurar terras mais férteis para suas roças, dando início, por exemplo, às Vilas de Santana do Parnaíba, Sorocaba e Itu.
A pequena capela construída por Domingos Fernandes, sob invocação de Nossa Senhora da Candelária, deu origem à povoação de Itu em 1610. Por muito tempo, a Vila de Itu foi local de parada e de partida de bandeirantes e monçoneiros em busca do sertão.
Itu passou a integrar a agricultura de exportação quando iniciou o cultivo de cana-de-açúcar, pois as terras eram consideradas de boa qualidade para essa cultura e, então, surgiram grandes fazendas exploradas com mão-de-obra escrava.
No cinturão de fazendas que foram sendo abertas ao redor de Itu, construíram-se casas, engenhos e os demais aparelhamentos próprios da cultura canavieira. As moradas que ainda restam desse período são do assim chamado “estilo bandeirista”, casas de taipa-de-pilão, com plantas simples e simétricas, construídas de acordo com o sistema que vigorava em terras paulistas desde o tempo das bandeiras.
A antiga Casa-Sede da Fazenda Paraizo ou o Sobradão – que necessita, urgentemente, de restauro – é um exemplo concreto dessa arquitetura: um casarão semelhante ao que hoje abriga o Museu Paulista/Museu Republicano “Convenção de Itu”, porém modificado, arquitetonicamente, após 1910.
O mais antigo dono da Fazenda Paraizo de que se tem conhecimento é o Padre João Leite Ferraz, edificador da Igreja Matriz de Itu. Pertenceu, depois, ao Barão de Itu: o nome do sítio era Tietê. Em 1868, o Capitão Bento de Almeida Prado (Barão de Itaim) e a mulher passam a ser proprietários da Fazenda mediante permuta com a Fazenda Floresta. O sítio, após 1868, passa a ser denominado Paraizo. Por volta de 1870, o Sr. Antonio Franklin de Toledo, casado com uma prima do Capitão Bento, supervisor do plantio de cana-de-açúcar do sítio Paraizo, montou a primeira moenda do engenho e se tornou o maior produtor de açúcar de Itu.
Por um século, aproximadamente de 1750 a 1850, o plantio de cana e o comércio de açúcar se constituíram na base da economia de Itu.
A grande crise do mercado internacional provoca a decadência do plantio da cana, gerando conflito entre políticos e fazendeiros. É criada a primeira Convenção Republicana do país, em 1873, sediada em Itu – SP, no mesmo casarão onde está instalado o Museu Paulista/Museu Republicano de Itu.
Em 1890, o Barão de Itaim vendeu a Paraizo para um primo por 30 contos de réis. Já produzia café. Dez meses depois, acrescida de 1.800 pés de café, sem quaisquer outras benfeitorias, foi revendida por noventa contos.
Inicia-se o ciclo do café que, até 1935, foi a base da economia do município de Itu – SP.
No ano de 1910, a Fazenda Paraizo pertencia ao Coronel Carlos Augusto de Vasconcelos Tavares que a vendeu, nesse ano, ao senhor Joaquim da Fonseca Bicudo (“Seu” Quinzó) e à sua mulher Sra. Maria Adelaide (“Dona” Manoca) do Amaral Gurgel.
Desde então, a Fazenda Paraizo pertence à família Bicudo mediante sucessão. O atual proprietário da sede, com 9 alqueires, é Joaquim Emídio Nogueira Bicudo.
Todo o conjunto arquitetônico da Fazenda Paraizo, além da beleza natural, é um resgate desse breve histórico. Qualquer visitante, ao se deparar com a História viva que emana desse conjunto, passa, também, a partilhar de um objetivo que não é só do proprietário Joaquim Emídio = restaurar a antiga Casa-Sede ou Casarão ou Sobradão, para que se destine a uma finalidade social em prol de jovens de Itu e região, ou seja, para que abrigue projetos de cunho social.
A inserção da foto abaixo pretende fazer uma conexão ao fato de que é de 1939 ou 1940 (a fonte é citada) e meu pai descreveu, em um depoimento de março de 1999, a meu pedido [o depoimento], como se lembrava da Fazenda e como eram as casas dos trabalhadores. Observem o “quadrado” a que ele se refere:
“Este sobradão [antiga Casa-Sede da Fazenda Paraizo] tem para mim, que praticamente nasci na Fazenda Paraizo – fui para lá com meus pais com menos de dois anos de idade [1924 ou 1925] – um significado especial. Ao tomar consciência de minha existência, já vivia lá, na época na “colônia” da fazenda, ou seja, onde residiam os trabalhadores, numa das casas construídas em grupos de duas, enfileiradas, situadas obliquamente ao “quadrado” (outro grupo de casas unidas umas às outras, dispostas em forma de quadrado) e que, antigamente, fechavam o quintal onde os escravos eram reunidos”. Trecho inicial do depoimento escrito de Agenor Bernardini, a meu pedido [Maria Lúcia] sobre as lembranças que a foto da antiga Casa-Sede, de 1999, evocavam nele.
Agenor Bernardini, meu pai, era filho de Brazil Bernardini (1897 – 1976) e Ines Micai Bernardini (1902 – 1978). Meu avô, Brazil Bernardini, foi o primeiro filho nascido no Brasil de meus bisavós Pietro Bernardini e Maria Fortunata Venturelli Bernardini. Os laços trabalhistas de meus bisavós Pietro e Maria Fortunata, filhos, genros e noras são, em Registros Cartorários de Nascimento e Óbito, anteriores a 1910. De acordo com depoimentos de descendentes, meu bisavô Pietro iniciou o pomar da Fazenda Paraizo e teria retornado, pela primeira vez, a Itália em 1906, de onde trouxe mudas de árvores frutíferas.
Observa-se, na foto abaixo (acervo das filhas de Ida Bernardini Mazulo e Cármine Mazullo) , provavelmente de 1906, a família de Pietro e Maria Fortunata (meu avô Brazil está na frente do pai, Pietro, cuja mão esquerda se encontra no ombro do filho) a presença de um nenê, Túlio, no colo da mãe, Domingas Todesco Bernardini, casada com Antonio (Tonin) Bernardini que, de acordo com Certidão de Nascimento, nasceu na Fazenda Paraizo em 01-06-1906:
Pietro, Maria, filhos, nora e neto = acervo da família Ida Bernardini Mazullo e Cármine Mazullo. Provavelmente dos últimos quatro meses de 1906
Brazil Bernardini administrou a Fazenda Paraizo por mais de trinta anos. Quando meu pai, Agenor Bernardini, foi para a Fazenda Paraizo com os pais Brazil e Ines, com menos dois anos, ou seja, por volta de 1924 ou 1925, residiram numa das casas da colônia e, quando meu avô foi promovido a administrador da Fazenda, talvez uns seis anos depois, residiram, até por volta de 1959, na casa ao lado da antiga Casa-Sede ou Sobradão ou Casarão.
Agenor Bernardini, em janeiro de 1999, em frente à antiga casa em que morou com os pais e irmãos, enquanto Brazil Bernardini foi administrador da Fazenda Paraizo. O proprietário da Fazenda Paraizo a restaurou e reformou e, desde então, é moradia e residência de uma das filhas, a de prenome Luciana. Acervo da família Bernardini. Crédito da foto: Maria Regina Bernardini (in memorian).
Cativados pela amizade sincera de Joaquim Emídio por nosso pai Agenor Bernardini, pelo respeito e pelas lembranças que guarda de nossos avós Brazil e Ines e de todos os filhos (irmãos de meu pai), pelo interesse genuíno de Joaquim Emídio em resgatar a antiga Casa-Sede da Fazenda Paraizo para finalidades sociais, continuamos a acompanhar e a vibrar com as ações e com as conquistas de Joaquim Emídio para tornar a Fazenda Paraizo autossustentável, de modo que, é o sonho de todos que admiram esse patrimônio histórico, em breve, se realizará por meio de alguma empresa a transformação da antiga Casa-Sede em um empreendimento em prol da sociedade ituana e da região.
Assim, as fotos que se seguirão tentarão mostrar o que já foi conquistado com relação à antiga cocheira ou antigo curral – uma construção do ano de 1929 – porém, antes, fotos das transformações da região até a inauguração do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos.
Aérea Fazenda Paraizo de 1982 – Acervo de Joaquim Emídio Nogueira Bicudo
Do Google Earth, que permite a utilização de imagens desde que as preserve e não sirvam para ganhos particulares = Fazenda Paraizo captada em 20/09/2013. Foi onde aprendi que há fotos de “Panoramio”.
Aérea de anel viário e novo acesso à Fazenda Paraizo: crédito é a Apresentação do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos
Aérea da Fazenda Paraizo. Crédito da foto= Apresentação do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos.
Acesso e vista da cocheira ou do curral a ser Espaço Santa Rita. Crédito= Apresentação do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos.
Acesso e vista mais aproximada da cocheira ou do curral a ser o Espaço Santa Rita. Crédito = Apresentação do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos.
Curral ou cocheira da Fazenda Paraizo; foto de 08-10-2006. Acervo de Joaquim Emídio Nogueira Bicudo.
Curral ou cocheira da Fazenda Paraizo; foto de 08-10-2006. Acervo de Joaquim Emídio Nogueira Bicudo.
Fachada do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos no dia da inauguração = 28-09-2013. Crédito da foto: Luís Roberto Exner (Beto)
Varanda do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos, inaugurado em 28-09-2013. Varanda de onde se avista a rodovia. Crédito da foto = Luís Roberto Exner (Beto).
28-09-2013, inauguração do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos. Luís Roberto Exner (cerimonialista) e Francisco Macedo (um dos proprietários do Espaço). Crédito da foto: Camila Exner
28-09-2013 = Getúlio Macedo (um dos proprietários do Espaço Santa Rita), Maria Angélica Marins Exner, Maria Lúcia Bernardini, Maria do Carmo Bernardini e Luís Roberto Exner (Beto). Crédito da foto = Camila Exner.
A inauguração do Espaço Santa Rita Restaurante & Eventos, na Fazenda Paraizo, em Itu-SP, em 28-09-2013, não apenas serviu comida saborosa, com sobremesas deliciosas: foi um sábado muito especial, com um sol digno de dia de inauguração de um empreendimento arrojado e que, certamente, todos os presentes desejam que seja um sucesso. Minha irmã Maria do Carmo e eu nos sentimos honradas por termos visitado o local antes e durante a inauguração.
Espero, sinceramente, ter deixado a vontade de que todos os que virem estas fotos e lerem sobre o breve histórico da Fazenda Paraizo, muito em breve, o visitem pessoalmente.
Sucesso aos amigos Joaquim Emídio, à Cida e a todos os familiares Bicudo = os filhos de Agenor Bernardini e Adalgisa de Souza Bernardini os amam muito e se sentem honrados pelas memórias e lembranças dos familiares de Brazil Bernardini e Ines Micai Bernardini.
Créditos para o texto:
CHIERIGHINI, H., GUARNELLI, I., OLIVEIRA, J. Itu: Patrimônio da Cultura Paulista. São Paulo. DeskTop Publishing, Editorial, 1997.
SOUZA, Jonas Soares de & WAKAHARA, Júlio Abe (CONDEPHAAT). Museu Paulista – Museu Republicano Itu – SP. São Paulo – SP. Graphon’s – Comércio e Indústria Gráfica Ltda., s/d.
LEPSCH, Inaldo C. S. O Barão de Itaim. Itu – SP. Ottoni Editora. 1999.
Depoimento escrito e histórico da Fazenda Paraizo de Agenor Bernardini – IN MEMORIAN.
Organizado por Maria Lúcia Bernardini. Itu – SP
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